quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Roupa de bruxa

Gosto de ser bruxa
essa bruxa moderna, wicca, witch.
Gosto do rótulo pois ele me serve
em tudo o que tem de natural, místico, esotérico.

Sinto-me bruxa na cozinha
cozinhando com amor e intenções
para pessoas amadas
pois só quando amo consigo cozinhar.
Sinto-me bruxa quando cuido da casa
limpando, decorando, arrumando e mudando a ordem
preparo a casa para aqueles que amo
pois só quando amo sou capaz de arrumar.
Sinto-me bruxa na natureza
olhando, ouvindo, cuidando, tentando ver.
Gosto do lado de fora
os pássaros, a terra, a grama, as ervas, as plantas
e gosto do lado de dentro
os objetos, os móveis, as pessoas, os sinais em tudo
mas o que eu mais gosto
são os detalhes
pequenos, grandes, abstratos, concretos
e gosto do invisível, daquilo que só é vislumbrado
me assusta
mas me encanta e consterna
e gostaria de ter roupa de bruxa
natural, discreta, leve e delicada.

"O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora, era a poética do lado de dentro." Rubem Alves


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O próprio Deus é incompleto sem mim.

Quando, no Dia da Criação, Deus modelou o homem na argila, à sua imagem e semelhança, Ele soprou em suas narinas o sopro da Vida.
O Sopro da Vida é uma parte de Deus que habita em nós. É nossa parte divina.
É esse Sopro Divino a Vida em nós, nossa Divindade, nosso ponto de União com o Pai, com o Criador.

Nossa peregrinação para voltar ao Pai iniciou-se com a expulsão do Éden. Lá nós perdemos a eternidade e a aceitação incondicional da Criação.

Fora do Éden nossa vida tem sido labutar a terra em busca de alimento com o suor de nosso rosto; dominados ora por dores ora por paixões, com a sombra da morte a nos perseguir. Até que tornemos ao pó.

A ânsia pelo conhecimento fez-nos sair do Éden.

O Éden, o paraíso perfeito criado pelo Pai para nos abrigar, continha em si todos os elementos necessários às nossas necessidades e foi-nos dado domínio total sobre toda a criação. Poderíamos exercer todos os talentos natos para criar, transformar, administrar, dominar. Mas o Pai também conhecia nossa mente - curiosa e astuta e por isso avisou-nos sobre a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. E nossos pais ancestrais comeram do fruto proibido e a dualidade entrou no Éden. E para que não comessem do fruto da Árvore da Vida e perpetuassem o erro por toda a eternidade o Pai os expulsou do Paraíso.

Nossa peregrinação desde o Éden tem sido o caminho que os descendentes de Eva e de Adão tem percorrido para se lembrarem da perfeição da Criação.
E cada vez que dividimos a Criação em opostos - em bem e mal, estamos novamente nos alimentando do fruto proibido.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

RELIGIÃO VIVA

O Cristianismo e todas as religiões que dele derivaram nasceram de um Cristo morto, preso na Cruz. O Cristianismo, tal como o conhecemos hoje, não é o Cristo.
O Budismo e todas as religiões e filosofias que dele derivaram, nasceram de um Budha sentado em posição de lótus, eternamente iluminado. O Budismo, tal como o conhecemos hoje, não é o Budha.
Cristo e Budha foram homens, cada um em sua época. Viveram no meio dos homens, tiveram todas as alegrias e tristezas que os homens tem.

Mas foram homens diferentes. Eles tiveram a Coragem da Fé.

Foram os homens, a memória dos homens e o Tempo que os transformaram em deuses e que transformaram suas vidas, suas palavras em doutrina. Nem Cristo fundou o Cristianismo nem Budha fundou o Budismo. Foram os monges, sacerdotes e eruditos que instituíram as filosofias e religiões baseadas na vida destes dois homens. E como tal, como instituições, estas religiões e filosofias estão repletas de excessos e burocracias, tão comum aos homens.

Correndo o Tempo para trás chegaremos ao homem que ambos foram, iguais a tantos outros de sua época.
O que os fez diferentes foi a coragem de ser diferente, a Coragem da Fé.
O que os fez diferentes foi a coragem de abandonar a religião morta, feita só de palavras e leis e tornarem-se religiosos. A história que o comum dos homens conhece não registra pessoas tão religiosas quanto Cristo e Budha.
Eles ouviram o chamado e o aceitaram. O Divino está sempre chamando os homens mas eles não escutam ou confundem a mensagem. Mas para estes homens o chamado foi uma ordem e eles nunca mais foram os mesmos por causa dele.

Durante muito tempo o Divino estava chamando o príncipe Sidarta. Um dia ele conheceu o sofrimento alheio. Ele, um príncipe muito rico, herdeiro de todo um império, ficou frente a frente com a miséria, a doença, a sujeira e a degradação humanas; viu a morte e a dor da morte. O Amor, de mãos dadas com a Miséria, tocaram o coração do príncipe e ele deixou seu palácio, seus familiares e todo o conforto e saiu pelo mundo em busca da Verdade sobre o sofrimento humano. Ele vagou por muitos cantos da Índia. Conheceu a vida de total Renúncia, conheceu a Fome, a Dor Física, a Solidão, o Silêncio, o Estudo. Um dia, vivendo a vida austera dos sadhus, ele olhou para o rio. Lá estava um pai ensinando o filho a manejar um barco. O príncipe escutou as instruções do Pai: "se esticar demais ela quebra, se afrouxar demais ela escapa." Ele foi até o rio bebeu água, aceitou um pouco de comida que lhe ofereceram, despediu-se de seus Mestres. Sentou-se sob a árvore Bodhy e entregou-se à meditação. Ele havia encontrado a Verdade. Conta a lenda que Maya colocou diante dele todas as tentações e ilusões com as quais os homens são confrontados. Ele venceu todas, até a Morte. Deste dia em diante o príncipe não era mais Sidarta. Era Budha, o que acordou. Até o dia de unir-se novamente ao Divino Budha ensinou a sua Verdade. E todos os que com ele estiveram, aprenderam. Mas então, passado algum tempo, formaram-se monges, sacerdotes e a burocracia, tão humana, concebeu o Budismo. A doutrina contém os ensinamentos do Budha, mas não tem o homem. Budha nunca foi budista. Budha foi um homem com a Verdade no coração. E foi missionário. Pois a Verdade nele ensinava, curava, iluminava.

De Cristo pouco se sabe de sua vida de homem. Sabe-se de seu nascimento na manjedoura, em Belém; sabe-se que sua família fugiu da perseguição de Herodes. Todo o Cristianismo é baseado na vida de pregação de Jesus Cristo, após os 30 anos. Os vaishnavos, na Índia, acreditam que o homem que veio a chamar-se Cristo andou em peregrinação pela Índia durante toda a adolescência e início da vida adulta e acreditam também que Cristo foi uma das encarnações de Vishnu, assim como Budha. Eu gosto de acreditar nisso. Que Cristo andou pela Índia, impregnou-se de toda aquela cultura e sabedoria e iluminou-se no Oriente. A maneira como ele falava, com metáforas, parábolas e estórias da vida do homem comum, está muito mais próxima do Oriente do que do Ocidente. Gosto de pensar que o deserto foi para o Cristo o mesmo que a árvore Bodhy foi para Budha. O certo é que quando retornou aquele homem não era mais o homem que havia sido. Ele era Jesus Cristo, o Filho do Homem. E trazia a Verdade no coração. Jesus Cristo nunca foi cristão. Jesus Cristo foi um homem com a Verdade no coração. E foi missionário pois a Verdade nele ensinava, curava, iluminava.

Não sabemos qual a Verdade de Budha.
Não sabemos qual a Verdade de Cristo.
Passados alguns milênios ainda podemos sentir que os ensinamentos deste homens estão transbordando de Verdade e Amor. E do Estudo da vida de cada um deles e da Prática de seus ensinamentos podemos encontrar a Verdade, a nossa Verdade e podemos então deixar a religião e nos tornarmos verdadeiramente religiosos.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Consciência

Se você dá a vida por um objetivo,
qual o valor da vida?
É ela algo que se pode perder quando se quer?
Se eu mato um pernilongo
minha vida é mais cara do que a dele;
se o deixo viver, comprometo outras vidas.
Se mato, sou egoísta.
Se não mato, sou agente à revelia

Procuro a questão e não encontro a solução.
Pirâmide alimentar,
Evolução das espécies,
Lei do karma, ...

Faço meu código.
Procuro respeitar o código alheio.
E a Lei Maior, científica e/ou espiritual
faz o resto.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Amiga

Eu vi teu rosto. Vi as coisas que não consegues aceitar. Vi a repulsa.
Eu senti teu corpo. Senti o desejo encravado bem lá no fundo. Senti o âmago. A dor.
Brinquei contigo.
Eu te disse para fazermos o jogo do empurra. Uma empurra para a outra
aquilo que dói, que machuca
e assim, com bom humor e sarcasmo
empurramos para amanhã aquilo que é visceralmente impossível
de resolver hoje.
E assim nos tornamos amigas. Cúmplices. Parceiras.
Amantes da mesma necessidade profunda e angustiante de retirar a dor de dentro de si.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A dor de não estar mais contigo


Quando você pensar em mim, em como eu sou quando estou com ou sem você não se deixe levar pelo temperamento intempestivo de julgar-me apressadamente.
Saiba que assim que você se vai, assim que a separação ocorre, um vazio gigantesco toma conta de mim. Imediatamente começo a chorar a tua ausência.
Quando estamos juntos eu não consigo deixar de ser a personalidade que eu represento.
Quando você está ausente eu gostaria de ter estado presente enquanto você estava comigo. Mas eu não estava. Estava somente o papel que eu tinha que desempenhar.
E você não imagina o quanto eu, desesperadamente, gostaria de ter estado simplesmente presente. Completa e totalmente envolvida com você, com a sua presença, com as coisas que você esteve fazendo e tentando compartilhar comigo.
Mas, infelizmente, a consciência que eu tenho de você, da tua importância, só retorna para mim no minuto seguinte ao da tua partida.
E é essa a minha dor.
A de nunca conseguir ser total na tua presença. Total, plena. Sem nada para provar, sem nada para ensinar, sem nada para cuidar. Somente total.
Somente presente.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nós precisamos ter uma certa distância em relação ao outro.
Quando vivemos com outras pessoas nós não misturamos só os nossos pertences externos,
nós nos misturamos,
misturamos nossa moral, nossos pensamentos, nossa ética, nossas emoções.
Internamente deixa de existir o teu, o eu
e passa a existir um híbrido de nosso
mas um nosso que não é união,
um nosso que é feito de eu + você = eu.
E há então todo o inferno e tragicomédia dos relacionamentos intensos.
A distância é um ótimo lenitivo.
Não a distância cínica dos insensíveis.
Não a distância vingativa dos inseguros.
Mas a distância amorosa dos seres que amam e respeitam.
Amam e respeitam o outro assim como ele é e permitem, amorosamente, que o outro viva a sua própria vida.